A CEFP
CONGREGAÇÃO ESPÍRITA FRANCISCO DE PAULA
A Congregação Espírita Francisco de Paula comemora seu aniversário no dia 23 de Abril, tendo sua fundação ocorrido em 1929. Filha primogênita da Associação Espírita Francisco de Paula, foi fundada por um trabalhador egresso desta casa.
Ele ainda não tinha 50 anos, que era a idade de Kardec ao iniciar as observações acerca dos fenômenos espíritas, e a biografia do Codificador do Espiritismo empolgava-o sobremodo. “Que fazer?”, interrogava a si mesmo. Aguardava com serenidade uma intuição qualquer que viesse ao seu encontro…
Eis que um dia ela chegou, e no dia 23 de Abril de 1929, era essa intuição cumprida em todos os seus pormenores: fundava-se a Congregação Espírita Francisco de Paula, sob a Bandeira Branca de seu Patrono.
Nessa data, ele conseguiu reunir no Café Planalto, que ao tempo era na Rua dos Andradas, esquina da Marechal Floriano Peixoto (veja foto ao lado), 20 irmãos de boa vontade, resolvendo naquele momento fundar esta Congregação. Foram dados os primeiros passos, porém as dificuldades surgiam a todos os momentos e os recursos financeiros dos fundadores eram escassos, limitando as despesas que podiam assumir com a Congregação.
Não desanimaram, contudo, esses 20 convictos. E não havendo numerário suficiente para alugarem uma casa, organizaram a primeira reunião espírita no dia 16 de junho de 1929, numa casa de calçados situada na Avenida Marechal Floriano Peixoto nº 100 (veja foto ao lado), pertencente a um dos 20 fundadores, chamado Celestino Fortunato de Abreu.
Ainda naquele mesmo ano, depois de muito lutarem, alugaram uma sala interior na Av. Marechal Floriano Peixoto, 163 (veja foto ao lado). Estavam ali, porém, há pouco tempo, e a primeira dificuldade se apresentava: a senhoria alugara a sala da frente a alguns músicos, que ali ensaiavam todas as noites. Era impossível realizarem sessões com tamanho barulho… Intercederam junto aos músicos para que se abstivessem pelo menos duas vezes por semana de seus ensaios diários, ao que eles atenderam prontamente.
Estava uma dificuldade vencida, e o ânimo dos 20 invencíveis criou vida nova e respiração mais forte. Mas qual não fora a sua tristeza no fim do mês, quando foram todos sorridentes cumprir com o aluguel perante a senhoria, ao escutarem desta a seguinte resposta: “Olhem meus senhores, não precisam pagar nada, tratem de arrumar esses cacarecos todos e mudarem o mais depressa possível; depois que os senhores vieram para minha casa, tudo meu tem corrido mal, há mais de 10 anos que dormia um sono só, agora, acordo a todos os momentos e fico a ver espíritos por tudo quanto é lado desta casa; façam-me o favor de carregarem com eles também.” E, se não tratassem de se mudar com urgência, os poucos móveis que existiam teriam ido parar na calçada…
Ainda em 1929, a muito custo, conseguiram alugar uma sala de frente na Rua Luiz de Camões, 3 – 2º andar (em prédio que hoje não mais existe), e para aí levaram a sede da Congregação. Eles alugaram a sala sem dar ciência ao locador do fim a que se destinaria, que estava convicto de que a sala destinar-se-ia a alguma sociedade recreativa. Quando lhe levaram a denúncia de que ali por cima de sua loja comercial estavam sendo realizadas sessões espíritas, uma onda de terror o envolvera, pois sob hipótese alguma ele admitiria semelhante coisa, propagada como diabólica pelos missionários que até então lhe haviam ministrado a sua crença. Resolveu aguardar a chegada de um dos diretores.
O primeiro que chegou foi logo advertido pelo locador, que lhe fez sentir, incisivamente, o grande arrependimento de ter alugado a sala para tão maléfico fim. Mas, meus irmãos, ele era um homem bom, e o mais interessante é que tempos depois ele se converteria ao Espiritismo e auxiliaria muito a Congregação. Em virtude de se haver dado essa transformação na alma daquele irmão, aí continuou a sede até 1932.
O primeiro estatuto desta Congregação foi aprovado em 30 de dezembro de 1929 e a primeira diretoria eleita dentro das bases estatutárias, em 14 de setembro de 1930.
Ainda, então, na rua Luiz de Camões, número 3, as dificuldades aumentaram dia-a-dia. Nos primórdios de 1932, mudaram a sede da Congregação para a Rua Marquês de Valença, 43, porão (em prédio que hoje não mais existe). Nessa altura, já o quadro social estava aumentando gradativamente, porém, a par de uma grande iniciativa, surgira uma tenebrosa discórdia, que dera a impressão do prelúdio desmoronador da grande obra sonhada pelos 20 baluartes. Tudo porque alguns elementos da diretoria não concordavam com os trabalhos conforme codificados por Kardec, e, fora da Congregação, realizavam sessões que muito prejudicavam as da Congregação, pela falta absoluta de homogeneidade de pensamento e ambiente.
Em uma das reuniões públicas, precisamente uma em que se encontravam todos os diretores na sede, surge um dos guias por um médium e ordena a suspensão imediata dos trabalhos, ordenando, em seguida, a reunião imediata de todos os diretores. E sem entrar em pormenores, resta-nos dizer que o resultado dessa reunião foi a demissão da quase totalidade dos diretores, ficando, porém, o presidente.
Os principais diretores eram os fiadores da Casa, e muito embora tivessem doado à Congregação as cadeiras para os assistentes, não titubearam em carregá-las e notificar o senhorio de que não desejavam mais serem os fiadores daquela Casa. Ficaram sem as cadeiras para os assistentes, mas não desanimaram. Organizaram um livro denominado “LIVRO DOS FILHOS DE FRANCISCO DE PAULA”, e, com o produto arrecadado por esse livro, compraram tábuas e fizeram bancos – bancos sem encosto. Força de vontade incalculável dominou aqueles irmãos, hoje qualificados “FILHOS DE FRANCISCO DE PAULA”.
A grande iniciativa a que à pouco me referi foi a organização do Teatro cuja idéia brotou de um irmão chamado Manoel Neves. Era um rapaz modesto e fazia o impossível. Chefiava uma Companhia de Amadores Teatrais, composta de 5 ou 6 meninas e 1 ou 2 rapazolas. O Neves era o ensaiador principal e o principal artista, tudo fazendo com um único fim – a CARIDADE. Tanto trabalhava nos centros espíritas como nas igrejas. Para ele qual religião não tinha importância, uma vez que se praticasse a caridade estava tudo muito bem, e é ao nosso irmão Manuel Neves que, em obediência à verdade, deve a Congregação a iniciativa do Teatro.
Em 1933 mudaram a sede da Congregação para a rua Conde de Bonfim, 169 (em prédio que hoje não mais existe). A Congregação nessa época ainda se ressentia do afastamento dos diretores. Surge, no entanto, a mão forte de uma diretoria, tendo como presidente um homem dinâmico e de ação inigualável. Essa diretoria, chefiada pelo aludido presidente, levou a Congregação ao nível financeiro desejado, sendo todos os Departamentos agitados e incrementados até o máximo.
Estamos agora no ano de 1939, e no dia 10 de junho desse ano, foi mudada a sede da Congregação, definitivamente, para este prédio onde hoje nos encontramos, com a GRAÇA DE DEUS. Este mesmo ano escrevera mais uma página na história desta Casa de Caridade, com uma voz, bem alta, bradando aos ouvidos daqueles que ainda queriam escutar e, incisivamente, lhes ordenando prosseguissem como pensavam, pois estavam com a verdade.
E, assim, dessa data até hoje, muito foi alcançado. O teatro foi reorganizado, tomando tal impulso, que pôde ser durante muito tempo considerado a espinha dorsal da renda da Casa; uma clínica médica foi instalada durante certo tempo na Casa, e sob a direção do nosso irmão Dr. José Maria Silveira da Silva, atendeu aos que eram sócios e aos que não eram, indistintamente. Devemos dizer mais ainda, que o consultório foi instalado por conta do próprio, arcando ele mesmo com todas as despesas de instalação. A essa iniciativa a Congregação Espírita Francisco de Paula ficou-lhe muito grata. Adicionalmente a tudo isso, a dívida da Congregação foi diminuída consideravelmente a despeito dos gastos feitos nas obras que foram além da expectativa.
Ao longo desses anos todos, através de reformas e pequenas obras, nosso prédio foi sendo ampliado para permitir acolher um público cada vez maior, além da construção do Lar de Francisco para abrigar os nossos vovozinhos.